05 fevereiro 2013

Deixar Transbordar


São 4 horas da manhã agora, sonhei com teu retrato sereno e perdi o sono. Estou aqui fora, essa chuva realmente me faz bem. Parece-me que a chuva é um grito de desespero dos céus, aquela coisa de trasbordar quando não se há mais espaço, quando não se há mais ‘’saco para encher’’. Gosto de transbordar, porém ao mesmo tempo é preciso ter muita coragem. É preciso se enfrentar, que ainda acho que é o mais difícil. Essa coisa de passar por cima do ego. No sonho tu estavas a dormir, os astros declamavam, o silêncio agonizava tamanha sincronia. O tic-tac do relógio, o rangir da porta, o pingar da gota da pia. Não consigo te evitar. Céus, o que fizestes comigo? Ver-te dormir acalma-me, mas me desespera ao mesmo tempo. Acompanhar tua leveza dói. É como estar atrás de um carro que está prestes a bater. É como ver a comida queimar. É como deixar a janela aberta em dia de chuva. É deixar ferro ligado e lembrar-se disso depois de sair de casa, no outro lado da cidade. É colocar sal no café. É saber o que vai acontecer e mesmo assim não impedir. Eu sei, sei que essa tua calmaria, essa tua sintonia vai acabar comigo, mas sou inútil em tentar evitar. Deixar chover, deixar transbordar.




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