22 novembro 2013

Rotina.

Todos os dias o despertador me acorda no mesmo horário, todos os dias pulo da cama tentando me lembrar de pisar primeiro com o pé direito. Todos os dias levo o mesmo tempo me olhando no espelho, tentando me convencer de que será um dia melhor do que a noite anterior.

Todos os dias passo o mesmo tempo embaixo do chuveiro, gasto os mesmos minutos escolhendo uma roupa fresca para os dias de sol, um agasalho para os dias chuvosos, uma incógnita para os dias que começam frios, e antes do fim, já estão mais quentes do que o céu nublado me contou.

Ai de quem não acrescente doses generosas de fantasia nessa tal de vida real. Às vezes, é difícil levantar da cama e se dar conta de que é preciso enfrentar mais um dia inteiro antes de poder cair novamente em seus braços macios. 

A rotina esmaga os dias. A sensação térmica é de que, às vezes, os dias duram mais que apenas vinte e quatro horas. É mais tempo do que seria preciso para suportar o mesmo cotidiano, os mesmos rostos, e dias em que até o nosso próprio já soa batido, abatido, repetido. Sorriso amarelo.

Todos os dias faço os mesmos caminhos, passo pelas mesmas casas e sinais vermelhos. Todos os dias atravesso as mesmas portas dando bom dia, boa tarde, boa noite, mesmo torcendo para dizer que, ei, meu dia foi uma merda graças a você. Ou para agradecer por ter transformado significantemente  minha neblina em gargalhadas.

Todos os dias acordo com a mesma vontade de mudar e seguir por um caminho diferente, fora do comum. Todos os dias acordo angustiado pelas respostas que deveria ter dado, pelas promessas que ainda não cumpri, e pela noite de sono mal dormida que me causei ou deixei causar.

Todos os dias prometo que vou dormir mais cedo, beber mais água, me alimentar na hora certa, pensar menos antes de agir, ponderar mais antes de gritar. Todos os dias espero a próxima segunda-feira para colocar em prática os meus planos mirabolantes de dominar o mundo ou simplesmente começar pelo meu.

Todos os dias invento uma desculpa nova para não me deixar desistir. Todos os dias requento um sonho qualquer ou uma palavra bonita para não para não me deixar esmorecer. Entristecer. Empobrecer. Abater. 

Todos os dias a minha rotina é uma infinita conversa comigo mesmo para tentar entender que a minha sina quem desatina sou eu. Todos os dias a minha rotina é uma infinita briga comigo mesmo pra tentar entender que tudo isso aqui, meu amigo, só depende d’eu.

A rotina esmaga os dias. Mas antes de ser comprimido pelo caos da repetição, eu coloco uma música nova ou a minha favorita, lavo o cabelo ou sacudo a cabeça, faço uma oração e parto. Talvez alguma coisa aconteça de diferente hoje para compensar o dia de ontem. Ou simplesmente me prometo uma coisa: só por hoje não vou me deixar entristecer. Só por hoje, vou ser feliz pra sempre. E parto. 

 Matheus Rocha

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