Eu acho que você merece o melhor. Mesmo que dentro de ti tudo diga que só as coisas ruins têm lugar. Sempre pensei que as pessoas mais tristes eram as que tinham mais coisas bonitas pra doar. Você já notou a forma como elas te olham? Como se vissem um canto de você que nem mesmo tu conhecias. Como se capturassem a tua essência. E por isso que lhe digo para largares dessas miudezas. Esse teu jeito de tentar encontrar nos prazeres depreciativos alguém que lhe diga ao pé do ouvido: “Calma, o caminho é logo ali” está te matando lentamente. E o pior é que nem ninguém nota. Nem mesmo eu, que vejo nos jornais o crescente aumento de números de suicidas, a procura de centros de reabilitação constante, o aumento do salário de psiquiátricos, conseguiria adentrar essa tua solidão se tu antes não me capturasse. Se não chegasse dessa forma acanhada, jeito de criança machucada, me pedindo um conselho sobre algo que pareceria banal aos olhos de qualquer outra pessoa que não entendesse nada sobre essa coisa de se entregar. Porque eu sei que houve entrega em algum momento. Que essa tua solidão partiu de algum precipício, suicídio interno, mal da alma. Que antes tu devia ter se doado demais. Que devia ter entregado o teu peito a alguém e esse alguém fugiu na calada da noite te deixando com mais olheiras que antes. Que confiou em algo e tuas crenças te ignoram. Que mendigou olhares, que busco saudades, que fugiu para dentro de si mesmo e não encontrou nada a não ser um vazio imenso de exigindo alguma explicação pra esse silencio todo. E que foi nesse vazio que tudo virou solidão. Calou teus olhares, encontrou na vulgaridade e no palavreado barato aliados para lidar com toda essa culpa de não conseguir sentir o que antes parecia ser algo tão essencial, tão único, algo que entrava tão fácil dentro de você. E que agora caleja teus calcanhares. Cansado desse ajoelhando constante e sentindo todos esses medos e sofreguidões arranharem teus olhos, implora em meias palavras pra que alguém lá em cima te escute, pra alguém te acolha, pra que alguém ainda tenha fé em ti. E se não ouvires resposta nenhuma, nem dos pés que calcificam as calçadas ou do céu que rega nossa alma, não desista. Porque você tem tanta coisa bonita pra mostrar. Acredite. Essa tua forma de cuidar de todos, como se aos teus olhos eles fossem alguma porção essencial da tua pele, é o que te torna admirável no peito de qualquer um. Mesmo que ninguém esteja vendo, mesmo que a maioria esteja mais preocupada com a sujeita que envolve o umbigo, saiba que és único por tudo que ainda tem vontade e coragem de ser. Que essa tua luta constante da permanecia das coisas arromba janelas e escancara telhados. Porque a gente é o que nosso peito nos pede pra ser. E eu diria que o teu peito é um dos lugares mais bonitos para se permanecer.
Luisa
Eu acho que você merece o melhor. Mesmo que dentro de ti tudo diga que só as coisas ruins têm lugar. Sempre pensei que as pessoas mais tristes eram as que tinham mais coisas bonitas pra doar. Você já notou a forma como elas te olham? Como se vissem um canto de você que nem mesmo tu conhecias. Como se capturassem a tua essência. E por isso que lhe digo para largares dessas miudezas. Esse teu jeito de tentar encontrar nos prazeres depreciativos alguém que lhe diga ao pé do ouvido: “Calma, o caminho é logo ali” está te matando lentamente. E o pior é que nem ninguém nota. Nem mesmo eu, que vejo nos jornais o crescente aumento de números de suicidas, a procura de centros de reabilitação constante, o aumento do salário de psiquiátricos, conseguiria adentrar essa tua solidão se tu antes não me capturasse. Se não chegasse dessa forma acanhada, jeito de criança machucada, me pedindo um conselho sobre algo que pareceria banal aos olhos de qualquer outra pessoa que não entendesse nada sobre essa coisa de se entregar. Porque eu sei que houve entrega em algum momento. Que essa tua solidão partiu de algum precipício, suicídio interno, mal da alma. Que antes tu devia ter se doado demais. Que devia ter entregado o teu peito a alguém e esse alguém fugiu na calada da noite te deixando com mais olheiras que antes. Que confiou em algo e tuas crenças te ignoram. Que mendigou olhares, que busco saudades, que fugiu para dentro de si mesmo e não encontrou nada a não ser um vazio imenso de exigindo alguma explicação pra esse silencio todo. E que foi nesse vazio que tudo virou solidão. Calou teus olhares, encontrou na vulgaridade e no palavreado barato aliados para lidar com toda essa culpa de não conseguir sentir o que antes parecia ser algo tão essencial, tão único, algo que entrava tão fácil dentro de você. E que agora caleja teus calcanhares. Cansado desse ajoelhando constante e sentindo todos esses medos e sofreguidões arranharem teus olhos, implora em meias palavras pra que alguém lá em cima te escute, pra alguém te acolha, pra que alguém ainda tenha fé em ti. E se não ouvires resposta nenhuma, nem dos pés que calcificam as calçadas ou do céu que rega nossa alma, não desista. Porque você tem tanta coisa bonita pra mostrar. Acredite. Essa tua forma de cuidar de todos, como se aos teus olhos eles fossem alguma porção essencial da tua pele, é o que te torna admirável no peito de qualquer um. Mesmo que ninguém esteja vendo, mesmo que a maioria esteja mais preocupada com a sujeita que envolve o umbigo, saiba que és único por tudo que ainda tem vontade e coragem de ser. Que essa tua luta constante da permanecia das coisas arromba janelas e escancara telhados. Porque a gente é o que nosso peito nos pede pra ser. E eu diria que o teu peito é um dos lugares mais bonitos para se permanecer.
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